sábado, 13 de dezembro de 2008

PRATICANDO METTA BHAVANA
1. Metta Bhavana é um tipo de oração, dentro da tradição budista, que consiste no que poderiamos chamar “oração afectiva”. H. Saddhatissa diz que é a ruptura das barreiras entre a própria pessoa e o resto da Humanidade . É, portanto, uma meditação plenamente holística. Vem de ‘Metta’= “Benevolência, boa vontade, amizade, carinho, afecto” e de ‘Bhavana’= “Meditação”.

2. De uma maneira breve, podemos caracterizá-la como aquele tipo de oração que consiste em enviar energia positiva, de maneira universal. O background filosófico desta práctica é que a Energia flui no Cosmo, que a nossa energia individual não é senão um dos aspectos relativos dessa Energia absoluta, e que ela actua continuamente.

Desta forma, podemos canalizar, conscientemente, a nossa própria energia, de maneira positiva, enviando-a a pessoas, seres vivos, situações..., não importando o espaço e o tempo, pois essa Energia transcende o contínuo espaço-tempo (é espiritual), mas também se manifesta nele, no sócio-histórico.

É como participar de um mundo transcendente, onde ondas e vibrações físico-espirituais actuam, se interpenetram e se transmitem. Evidentemente, isto não poderá ser aceite por um materialismo estreito a nível epistemológico.

3. A melhor maneira que encontrei de praticá-la é observando cinco passos progressivos. Mas há uma pré-condição: preparar-se mentalmente para ela, sentar-se de maneira cómoda (numa cadeira ou banco, preferentemente dur@ e sem braços; ou, então, se pudermos, sentad@s num tapete na posição de lotus -padmasana- ou meio-lotus, e até em simples sukhasana, ou seja, com as pernas cruzadas), as costas rectas, os olhos fechados, respiração calma e mente serena, atenta, concentrada. Pode-se ter alguma música de fundo, de tipo espiritual, suave (mas não é necessário utilizá-la: depende de cada um/a de nós e até do momento).

A partir daqui, praticam-se os cinco passos.

3.1. Primeiro, seguindo aquele princípio do Evangelho de que só se pode amar aos outr@s se nos sabemos amar previamente a nós propri@s , começar por enviar-nos energia a nós própri@s, começando por desejar-nos muita sabedoria, compreensão, amor e carinho no nosso dia-a-dia. (O problema é que não sabemos amar-nos...).

3.2. Em segundo lugar, enviar essa energia, esse cúmulo de Sabedoria-Amor aos nossos melhores amig@s. Podemos visualizar cada um deles/delas, ou fazê-lo mais em geral, dependendo do tempo e do interesse que tivermos.

3.3. Em terceiro lugar, canalizamos essa energia em direcção de aquelas pesssoas com as quais não temos relação particular alguma (o motorista do autocarro, alguma pessoa que encontramos todos os dias no nosso caminho, mas que não saudamos, aquele/a vizinh@ do prédio, etc.), mas que fazem parte do nosso quotidiano.

3.4. Em quarto lugar, e isto é um bocadinho mais difícil, enviamos essa energia positiva aos/às nossos/as inimigos/as, ou pelo menos, àqueles/as que se consideram como tais. Tentamos enviar-lhes a maior compreensão possível, muita sabedoria na sua vida, boas e sábias decisões no seu actuar, que encontrem e estendam muito amor à sua volta, etc.

Praticar este ponto é viver em concreto o princípio evangélico de amar aos nossos “inimigos” (ou, pelo menos, àqueles que se consideram assim frente a nós...) (Nota: convém praticar este ponto só depois de praticar os anteriores).

3.5. Finalmente, em quinto lugar, enviar esta energia ao mundo inteiro, visualizando povos, países, continentes, etc. Podemos enviá-la aos chineses, indianos, brasileiros, portugueses, espanhóis, angolanos, australianos, etc.

Uma menção especial merecem os povos que se acham em guerra, pela estupidez dos seus dirigentes, assim como no caso de conflictos sociais, para que a justiça se imponha como o mais racional para tod@s (mas não esqueçamos que a prática desta oração empurra-nos a lutar, igualmente, na prática social, para que a justiça se faça realidade...).

Este quinto passo faz ser a nossa oração, realmente, universal e até cósmica, se quisermos. Quebra a rotina da prática do nosso habitual egoísmo quotidiano.

4. Quanto tempo praticar?

Isso depende das nossas possibilidades, do tempo disponível, e sobretudo, da confiança, e até da fé que depositemos num tipo de oração semelhante. Pode ir desde cinco ou dez minutos, até uma hora ou mais, diária ou, somente, de vez em quando. O melhor, sem dúvida, é praticá-la o mais amiúde possível.

Mas uma coisa posso garantir: se a nossa energia é tão “débil” (ou seja, se a nossa capacidade de amar é tão “fraquinha”) que não “alcança” àqueles/as a quem nos dirigimos, pelo menos fortalece o nosso próprio coração e aprofunda a nossa capacidade de Amar, inclusivé aos nossos/as inimigos/as .

Boa prática, pois, e talvez nos encontremos nalgum momento a cruzar energias...

E pensem, esta Energia é como a luz da vela: se a compartilhamos, não enfraquece, mas multiplica-se.

rui manuel
nagpur
(india)
27.11.08.

um poema que nos bate ao coração é pura meditação

O sór cumeça despontá
Intão eu voo du meu nin
Pózo na gáia do jatobá
E tomo jeito de paçarin
E ali naquele momento
As fruta é meu alimento
Eu sou um sabiá sozin.

Despois pózo na amoreira
Aí é qui min bate a sôdade
Pois paçei a vida intêra
In busca da filicidade
Mas quá! Eu sempi vivi sozin
Sô apenas um paçarin
Cum poquim de vaidade!

Nun quero nesses verso
A min querê lamuriá
Conquistá o univerço?
Minhas asa nun ia guentá
Eu já tenho o meu espaço
Pra vuá sem imbaraço
Nun quero mutia coisa abraçá.

Mais sei qui ta min fartano
Por aqui u’a cumpanhêra
As vêiz fico alembrano
Quandéla tava na portêra
Das bicada qui nóis dava
Nossas asa se abraçava
Mais nun durô a vida intêra

Nun sei prumodi de quê
Ela num mais apariceu
Ela era meu bem querê
Eu era o bem querê seu
Foi ôtro paçarin marvado
Qui mora lá do ôtro lado
Qui vêi robá o qui era meu.

É triste hoji o meu canto
Cum ela eu sonho todo dia
Tô aqui neste recanto
Em busca das aligria
Ela aqui tem estado
Mais nun dexa nium recado
Tô viveno de fantasia.

Inté a laranjeira secô
Aquela dondi nóis ficava
Suas fôias se amarelô
Qui caiu quando ventava
Inté aquele véio nin
Disfiapô pur ta sozin
Onde nóis se incrontava.

Pruquê ela num mais vortô
O qui foi qui se assucedeu
Será se nu’a gaiola li trancô
Pruque mais nun vortô pra eu
Será se nun vorta mais
A sabiá das Mina Gerais?
Um outro dia já manheceu!

Óio todas as revuada
Qui vem das banda de lá
Todos os dia nas arvorada
Num vejo ela cun os ôtros no ar
Já fui inté nos seu jardim
Mais ela nun veio pra mim
Cuma é triste o meu pená!


Airam Ribeiro